E um Filho nos foi dado: Exposição |
A exposição de Natal que se realiza tradicionalmente no Palácio Nacional de Belém é este ano consagrada aos tesouros artísticos do Baixo Alentejo, numa iniciativa do Museu da Presidência da República e do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. Sob o título E um Filho nos foi dado, a exposição apresenta quase uma centena de obras de arte, provenientes de museus, igrejas e colecções particulares, permitindo traçar uma panorâmica da riqueza patrimonial do actual território da Diocese de Beja, a segunda mais vasta do país. Uma viagem no espaço mas também no tempo, já que se estende ao longo de um vasto arco cronológico, desde o século XV à actualidade, tendo como fio condutor um tema central da antropologia do Sagrado: a Encarnação. Uma realidade espiritual, mas também profundamente humana, aqui glosada por um notável conjunto de manifestações artísticas que inclui muitas peças nunca antes mostradas ao público – ou nunca antes saídas do seu contexto habitual. Segundo José António Falcão, director do Departamento do Património da Diocese de Beja e comissário da exposição, esta mostra “dá a primazia à vivência comunitária da devoção ao Deus Menino, sinal da identidade de uma região que se orgulha das suas tradições natalícias, mas propõe uma reflexão mais alargada em torno do diálogo da cultura com a religião”. A arte sacra do Alentejo meridional tem sido, nas últimas décadas, alvo de um ousado projecto para o seu resgate, numa luta difícil contra o abandono e os furtos, mas já com provas dadas. Hoje constitui um dos valores patrimoniais mais apreciados da região e tornou-se, inclusivamente, uma alavanca ao serviço do desenvolvimento local. Entre pinturas, esculturas e as artes decorativas, é um pouco a síntese deste trabalho, que agora se dá a conhecer ao público nesta exposição natalícia no Palácio de Belém. Um percurso que vai de Adão e Eva (tema de um prato medieval para a recolha de esmolas) até à Anunciação do anjo a Maria, ao nascimento de Jesus, em Belém, e à sua infância em Nazaré. Enunciam-se, assim, sucessivas narrativas que, face ao silêncio dos Evangelhos reconhecidos pela Igreja, foram largamente desenvolvidas pelos outros Evangelhos, os Apócrifos. Uns e outros encontram-se impregnados de humanidade, como transparece numa Virgem em Majestade, da época românica, ou numa Natividade “ao profano”, desenhada por Jorge Vieira em 1962. A aura misteriosa que envolve o Verbo que se fez carne torna-se bem presente na imaginária gótica alentejana, mas também em magníficos painéis do Renascimento e do Maneirismo, como os de Jean Bellegambe ou de Francisco de Campos que se conservam nos museus de Beja e Santiago do Cacém. Encontra depois nova luz no olhar de um pintor bejense dos nossos dias: António Paizana. A exposição E um Filho nos foi dado – Iconografia do Menino Deus no Alentejo Meridional será inaugurada pelo Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, no dia 14 de Dezembro, e poderá ser visitada até ao dia 3 de Março. |